terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O que é Teratologia ?

Uma fração significativa das crianças com defeitos congênitos tem etiologia ambiental. Desta forma, é muito importante que se tenha conhecimento destas causas não herdadas de defeitos congênitos bem como suas potenciais interações com os fatores genéticos e suas implicações para a saúde humana, crescimento e desenvolvimento.

Teratologia (teratos = monstro; logus = estudo) entende-se o ramo da ciência médica, que consiste no estudo das malformações congênitas, preocupado ao estudo da contribuição ambiental ao desenvolvimento pré-natal alterado (Smithells, 1980). Um agente teratogênico é definido como qualquer substância, organismo, agente físico ou estado de deficiência que, estando presente durante a vida embrionária ou fetal, produz uma alteração na estrutura ou função da descendência (Dicke, 1989).

Tipos de agentes teratogênicos

Há basicamente 3 categorias de agentes teratógenos:

1) FATORES AMBIENTAIS

Os fatores ambientais são particularmente nocivos no primeiro trimestre da gestação (período embriopático).

Infecções maternas:

•Rubella RCIU =(microcefalia, cardiopatia, surdez, catarata);
•Toxoplasma =(Microcefalia, microftalmia, RCIU, calcificações cerebrais, hidrocefalia);
•Cytomegalovirus =(Microcefalia, microftalmia, RCIU, calcificações cerebrais, hidrocefalia);
•Herpes simples =(Microcefalia, catarata);
•Varicela = (Hidrocefalia, catarata, lesões cutâneas);
•HIV =(Microcefalia, hipertelorismo, RCIU).

2) TERATÓGENOS QUÍMICOS

Apesar do conhecimento da teratogenicidade de diversas substâncias químicas em animais e até a associação destas com defeitos congênitos em humanos, são relativamente poucas as situações em que o efeito teratogênico foi devidamente comprovado na nossa espécie. A seguir estão listados os principais teratógenos químicos em humanos.

Teratógenos químicos em humanos:

•Ácido Valpróico:(Defeitos de tubo neural);
•Álcool RCIU:(retardo mental, microcefalia, ipoplasia maxilar, fissuras palpebrais pequenas, anomalias cardíacas);
•Anticoagulantes:(warfarin dicumarínicos)(Hipoplasia nasal, malformações do sistema nervoso central, anormalidades esqueléticas, alterações oculares);
•Antineoplásicos:(Malformações múltiplas);
•Antitireoidianos:(Bócio fetal, hipotireoidismo);
•Fenitoína:(Retardo mental, microcefalia, face dismórfica, hipoplasia da falanges distais, incluindo unhas);
•Hormônios Androgênios:(Masculinização de fetos femininos);
•Dietilbestrol:(mortes fetais, anormalidades uterinas e cervicais (tumores).
•Lítio:(Anomalia cardíaca valvar (Anomalia de Ebstein);
•Talidomida:(Defeitos nos membros (focomelia), anomalias cardíacas e nas orelhas);
•Tetraciclina:( Hipoplasia e escurecimento do esmalte dentário);
•Vitamina A:(ácido retinóico)( Anomalias de sistema nervoso central, coração e orelhas).

3) AGENTES FÍSICOS

A radiação ionizante é considerado um potente teratógeno contudo, é dose-dependente e relacionado ao estágio de desenvolvimento que o concepto é exposto. No uso diagnóstico dos Raios X, as doses habitualmente utilizadas (poucos milirads, cerca de 5 a 100) são insuficientes para causar anomalias. Contudo, como quebras no DNA e mutações podem acontecer, é prudente a proteção radiológica apesar dos riscos pequenos Em altas doses a radiação ionizante pode causar uma variedade de anomalias no embrião, desde, defeitos de membros, fendas lábio-palatinas e até anormalidades do sistema nervoso central A hipertermia materna também está relacionada com defeitos de fechamento do tubo neural, microcefalia, micrognatia e fendas faciais. Agentes mecânicos aqui podem ser consideradas as bridas âmnicas que causam amputações ou outras lesões destrutivas em qualquer segmento corporal. O torcicolo, o pé torto, e as deformidades crânio-faciais relacionam-se com a posição fetal e a presença de compressões extrínsecas ao feto.

Teratogênese por drogas


As drogas variam consideravelmente em sua teratogenicidade. Algumas, como a talidomida, causam uma perturbação grave do desenvolvimento quando administrados durante o período da organogênese de certas partes do embrião (por exemplo a talidomida no desenvolvimento dos membros). Outros teratógenos causam retardo mental e do crescimento e outras anomalias quando usados em quantidades excessivas durante o desenvolvimento.

Exemplos:

- Tabagismo: o tabagismo materno é uma causa bem demonstrada de retardo do crescimento intra-uterino.

- Cafeína: é a droga mais popular da América do Norte por estar presente em várias bebidas amplamente consumidas. A cafeína não é um teratógeno humano conhecido, entretanto não há garantia de que um grande consumo materno seja seguro para o embrião.

- Álcool: seu consumo, tanto moderado quanto alto, durante o início da gravidez, pode levar a alterações do crescimento e da morfogênese do feto. Crianças, filhos de mães alcoólatras crônicas, apresentam um padrão específicos de defeitos que inclui deficiência do crescimento pré e pós natal, retardamento mental e outras anomalias: microencefalia, fissuras palpebrais curtas, pregas epicânticas, hipoplasia do maxilar, nariz curto, lábio superior delgado, sulco da palma da mão anormais, anomalias de articulações e doença congênita do coração. Este padrão de anomalias – a síndrome de alcoolismo fetal (SAF)- é detectado em 1 a 2 crianças/1000 nascimentos vivos.

Conseqüências da ação de um teratógeno


Os teratógenos agem através de um número relativamente limitado de mecanismos patogênicos, produzindo morte celular, alterações no crescimento dos tecidos (hiperplasia, hipoplasia ou crescimento assincrônico), interferência na diferenciação celular ou em outros processos morfogenéticos. Estes mecanismos afetam eventos básicos do organismo em desenvolvimento e geralmente suas conseqüências atingirão mais de um tecido ou órgão.

Assim, as manifestações da ação de um agente teratogênico na espécie humana podem ser agrupados em classes principais:

1) Morte do concepto ou infertilidade;

2) Malformações;

3) Retardo de crescimento intra-uterino e;

4) Deficiências funcionais, incluindo-se aqui o retardo mental.

Estes danos podem tanto ter uma causa genética como ambiental e, muitas vezes, uma combinação destas duas (etiologia multifatorial). Estima-se que cerca de 15% de todas as gestações reconhecidas terminem em aborto e que de 3% de todos os recém-nascidos vivos apresentem algum defeito congênito (Kalter & Warkany, 1983).Nas perdas gestacionais estima-se uma contribuição de causas cromossômicas em mais de 50% dos abortamentos espontâneos. Com relação aos defeitos congênitos causas genéticas parecem ser responsáveis por 15-20% destes, fatores ambientais são reconhecidamente responsáveis por 7%, 20% são de etiologia multifatorial mas em mais de 50% dos casos a causa permanece desconhecida (Kalter & Warkany, 1983).

Princípios básicos de teratologia

A ação de um agente teratogênico sobre o embrião ou feto em desenvolvimento dependerá de diversos fatores destacando-se (Wilson, 1977):

1) Estágio de desenvolvimento do concepto:

A susceptibilidade a agentes teratogênicos varia segundo o estágio de desenvolvimento do concepto no momento da exposição. Se esta ocorre nas duas primeiras semanas após a concepção, produz-se um efeito de tudo-ou-nada, ou seja, pode haver letalidade do embrião ou nenhuma anomalia; o período de organogênese entre a 3º e a 8º semana é o mais crítico com relação às malformações; após isto, os efeitos se produzem principalmente em sistema nervoso central (que continua se diferenciando), como também sobre o crescimento fetal.

2) Relação entre dose e efeito:

As manifestações do desenvolvimento anormal aumentam à medida que se incrementa a dose do agente, variando desde nenhum efeito, passando pelos danos funcionais e malformações até a morte do concepto;

3) Genótipo materno-fetal:

A heterogeneidade genética, tanto da mãe como do feto, pode conferir maior susceptibilidade ou resistência à manifestação de um determinado agente. Os defeitos de fechamento de tubo neural (espinha bífida) são um bom exemplo de defeitos nos quais a susceptibilidade genética desempenha importante fator.

4) Mecanismo patogênico específico de cada agente :

Os agentes teratogênicos atuam por mecanismos específicos sobre as células e tecidos em desenvolvimento, por exemplo, alterando o crescimento de um tecido, interferindo com a diferenciação celular ou morfogênese fetal e provocando a morte celular.

Estudos caso-controle

Se parte de uma série de crianças com malformações específicas e se questiona suas mães sobre ingestão de medicamentos durante a gravidez. Como controle, faz-se a mesma averiguação para um gupo de igual número de crianças normais. O grande problema deste tipo de investigação é que depende muito da memória materna e sabe-se atualmente que mães de crianças malformadas e normais valorizam e relatam de forma diferente as medicações usadas durante o período gestacional.

Estudos prospectivos (coorte)

Parte-se de uma série de mulheres grávidas que estiveram expostas a um determinado fármaco e observa-se, após o nascimento, a saúde dos bebês. Como controle usa-se uma série igual de mulheres grávidas com exposições consideradas seguras. Esta é a melhor metodologia, mas tais estudos são difíceis, pois, devido à raridade dos defeitos congênitos, são necessários grandes números de mulheres expostas.

Desta forma fica claro porque a comprovação da teratogenicidade ou da segurança de muitos fármacos é uma tarefa complexa e difícil interpretação.

Algumas questões metodológicas: Por que é tão difícil identificar uma droga teratogênica?


A possível relação do uso de fármacos durante a gravidez com o aparecimento de efeitos adversos sobre o embrião ou o feto gera um grande número de dúvidas. Estima-se que um ser humano possa estar exposto a aproximadamente 5.000.000 diferentes substâncias químicas, mas destas apenas em torno de 1.500 foram testados em animais e pouco mais de 30 são comprovadamente teratogênicos no homem (Shepard, 1992). Este pequeno número se deve, em parte, às dificuldades de investigação de teratogenicidade nos humanos (Heinonen et al.,1977).

Tradicionalmente, os estudos experimentais em animais fornecem a base de triagem para a verificação do potencial teratogênico de um determinado agente. Estas investigações tem o papel fundamental de elucidar os princípios e mecanismos da teratogênese, mas não tem sido bem sucedidos na identificação de teratógenos humanos devido às diferenças genéticas entre as espécies. Por exemplo, os corticosteróides, potentes teratógenos em roedores, são aparentemente seguros para o homem; por outro lado, a talidomida, um teratógeno potente para o homem, é aparentemente seguro para a maioria dos animais. Assim, a evidência definitiva de que se uma droga é teratogênica ou não para humanos deve ser procurada no próprio homem.

Até hoje, a identificação dos teratógenos para o homem tem sido realizada principalmente pela observação inicial feita por clínicos atentos na prática médica diária, através de relatos de caso. Este foi o caso, por exemplo, da rubéola e da talidomida (Lenz, 1992). Mas os relatos de caso tendem a superestimar o potencial teratogênico de um fármaco, pois são publicados preferencialmente os casos com efeito reprodutivo adverso (uma malformação, por exemplo), enquanto que os casos em que crianças nasceram normais após a exposição tendem a passar desapercebidos. Um exemplo de uma droga que foi falsamente incriminada como teratogênica por relatos de caso foi o anti-emético bendectina (doxilamina com piridoxina), que mais tarde foi demonstrada como sendo segura por estudos epidemiológicos (Brent, 1995).

Os estudos epidemiológicos, portanto são fundamentais para confirmar ou afastar estas hipóteses. A detecção do ácido valpróico como um teratógeno em humanos é um exemplo de uma hipótese levantada através de observação clínica (Robert & Gibaud, 1982) que foi imediatamente testada através de dados de registros locais (Robert e cols., 1984) e finalmente confirmada por estudos epidemiológicos em outros locais (Martinez-Frias e cols., 1989; Mastroiacovo e cols., 1983). Os estudos epidemiológicos em teratogênese geralmente são de dois tipos principais.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Uso de Drogas Durante a Gravidez

A maioria das mulheres grávidas faz uso de algum tipo de droga (medicamento ou drogas lícitas ou ilícitas). Os Centers for Disease Control and Prevention e a Organização Mundial da Saúde estimam que mais de 90% das mulheres grávidas fazem uso de medicamentos controlados ou de venda livre, drogas sociais (por exemplo o tabaco e o álcool) ou drogas ilícitas.

Os medicamentos e as drogas são responsáveis por 2 a 3% de todos os defeitos congênitos. A maioria dos outros defeitos congênitos tem causa hereditária, ambiental ou desconhecida. As drogas passam da mãe para o feto sobretudo basicamente através da placenta, a mesma via utilizada percorrida pelos nutrientes para o crescimento e desenvolvimento do feto.

Na placenta, as drogas e os nutrientes presentes no sangue da mãe atravessam uma membrana fina, a qual separa o sangue da mãe do sangue do feto. As drogas que uma mulher utiliza durante a gravidez podem afetar o feto de várias maneiras:
• Atuando diretamente sobre o feto, causando lesão, desenvolvimento anormal ou morte
• Alterando a função da placenta, geralmente contraindo os vasos sangüíneos e reduzindo a troca de oxigênio e nutrientes entre o feto e a mãe
• Causando contração forçada da musculatura uterina, lesando indiretamente o feto através da redução de seu suprimento sangüíneo.

Como as Drogas Atravessam a Placenta


Na placenta, o sangue materno passa pelo espaço (espaço interviloso) que envolve os vilos (projeções diminutas) que contêm os vasos sangüíneos do feto. O sangue materno que se encontra no espaço interviloso é separado do sangue do feto que se encontra nos vilos pela membrana placentária (uma membrana fina). As drogas presentes no sangue da mãe podem atravessar essa membrana, passando para os vasos sangüíneos dos vilos e passam através do cordão umbilical até o feto.

O modo como uma droga afeta o feto depende do estágio de desenvolvimento deste e da potência e da dose da droga. Certas substâncias utilizadas no início da gestação (antes do 17º dia após a fertilização) podem atuar baseadas na lei do tudo ou nada, seja matando o feto ou não o afetando em absoluto. Durante esse estágio, o feto é altamente resistente aos defeitos congênitos.

Contudo, ele é particularmente vulnerável a esses defeitos entre o 17º e 57º dia após a fertilização, quando seus órgãos estão se desenvolvendo. As drogas que atingem o feto durante esse estágio podem causar aborto espontâneo, um defeito congênito evidente ou um defeito permanente mas sutil (o qual é percebido mais tarde) ou podem não causar qualquer efeito perceptível.

É improvável que as drogas utilizadas após o término do desenvolvimento dos órgãos causem defeitos congênitos evidentes, mas elas podem alterar o crescimento e a função de órgãos e tecidos formados normalmente.

Drogas Antineoplásicas

Como os tecidos do feto crescem com rapidez, as suas células que se multiplicam rapidamente são muito vulneráveis às drogas antineoplásicas (drogas utilizadas no tratamento de cânceres). Muitas dessas drogas são teratogênicas, isto é, causam defeitos congênitos (p.ex., retardo do crescimento intra-uterino, subdesenvolvimento da mandíbula, fenda palatina, desenvolvimento anormal dos ossos do crânio, defeitos da coluna vertebral, defeitos do ouvido, pé torto e retardo mental). Algumas drogas antineoplásicas causam defeitos congênitos em animais, mas ainda não foi demonstrado que elas os provoquem no ser humano.

Talidomida

Esta droga não é mais prescrita para as mulheres grávidas porque ela causa defeitos congênitos importantes. A talidomida foi introduzida pela primeira vez na Europa, em 1956, como um medicamento contra a gripe e como sedativo. Em 1962, verificou-se que quando a talidomida era utilizada por mulheres grávidas quando os órgãos do feto encontravam-se em desenvolvimento, ela causava defeitos congênitos (p.ex., hipodesenvolvimento severo dos membros superiores e inferiores e defeitos intestinais, cardíacos e vasculares).

Tratamentos da Pele

A isotretinoína, utilizada para tratar a acne grave, a psoríase e outros distúrbios cutâneos, causa defeitos congênitos graves. Entre os mais importantes encontram-se os defeitos cardíacos, orelhas pequenas e a hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro). O risco de defeitos congênitos é de aproximadamente 25%. O etretinato, uma outra droga utilizada no tratamento de distúrbios cutâneos, também causa defeitos congênitos no ser humano.

Como esta droga é armazenada na gordura subcutânea (localizada abaixo da pele) e é liberada lentamente, ela pode causar defeitos congênitos durante 6 meses ou mais após a mulher suspender o seu uso. Por essa razão, as mulheres que fazem uso desta droga são aconselhadas a aguardar pelo menos 1 anos antes de engravidar.

Hormônios Sexuais

Os hormônios androgênicos (masculinizantes) utilizados para tratar vários distúrbios sangüíneos, assim como as progestinas sintéticas utilizadas durante as 12 primeiras semanas após a fertilização podem causar masculinização da genitália do feto do sexo feminino. Pode ocorrer aumento do clitóris (uma pequena protrusão análoga ao pênis do homem), uma condição permanente (a não ser que seja corrigida cirurgicamente). Também pode ocorrer fusão dos pequenos lábios, que circundam os orifícios da vagina e da uretra.

Os contraceptivos orais não contêm uma quantidade suficiente de progestina para produzir esses efeitos. O dietilestilbestrol, um estrogênio sintético, pode causar câncer de vagina em meninas adolescentes cujas mães fizeram uso desta droga durante a gestação. Posteriormente, essas meninas podem apresentar uma cavidade uterina anormal, distúrbios menstruais, um colo do útero incompetente (o qual pode causar abortos espontâneos) e um aumento do risco de gravidez ectópica, de gerar um natimorto e de morte neonatal. Os meninos expostos ao dietilstilbestrol durante a vida fetal apresentam anomalias do pênis.

Meclizina

A meclizina, freqüentemente utilizada para combater o enjôo de viagem, a náusea e o vômito, causa defeitos congênitos em animais, mas esses mesmos efeitos não foram observados no ser humano.

Categorias de Segurança das Drogas Durante a Gravidez Segundo a FDA ( Food and Drug Administration)

Drogas Anticonvulsivantes

Quando utilizadas durante a gravidez, algumas drogas anticonvulsivantes podem produzir fenda palatina ou desenvolvimento anormal do coração, da face, do crânio, das mãos ou dos órgãos abdominais. O concepto também pode apresentar retardo mental. Sobretudo dois anticonvulsivantes podem causar defeitos congênitos: a trimetadiona (com um risco de aproximadamente 70%) e o ácido valpróico (com um risco de aproximadamente1%).

Acredita-se que a carbamazepina, um outro anticonvulsivante, causa um número significativo de defeitos congênitos de pequena importância. Foi atribuída ao anticonvulsivante fenitoína a responsabilidade de diversos defeitos congênitos, mas foram observados defeitos similares em filhos de mulheres epilépticas que não faziam uso de anticonvulsivantes. Os recém-nascidos expostos à fenitoína e ao fenobarbital (um barbitúrico e também anticonvulsivante) antes do nascimento podem apresentar sangramento fácil porque essas drogas podem causar uma deficiência de vitamina K, a qual é necessária para a coagulação.

Este efeito colateral pode ser evitado quando a mulher grávida faz uso da vitamina K oral logo após o parto. Durante a gestação, as mulheres epilépticas devem utilizar a dose mínima eficaz de anticonvulsivantes e devem ser rigorosamente controladas. As mulheres epilépticas, mesmo quando não utilizam drogas anticonvulsivantes durante a gravidez, apresentam uma maior probabilidade de gerarem conceptos com defeitos congênitos que as mulheres que não sofrem de epilepsia.

O risco é maior para as gestantes que apresentam crises convulsivas freqüentes e graves ou complicações da gravidez e nas mulheres que pertencem a grupos sócio-econômicos baixos, uma vez que elas tendem a receber uma atenção médica inadequada.

Vacinas

Exceto em circunstâncias especiais, as vacinas produzidas a partir de vírus vivo não são administradas a mulheres que estão ou podem estar grávidas. A vacina contra a rubéola (uma vacina de vírus vivo) pode causar infecção tanto na placenta como no feto em desenvolvimento. As vacinas de vírus vivo (p.ex., sarampo, caxumba, pólio, varicela e febre amarela) e outras vacinas (p.ex., cólera, hepatites A e B, gripe, peste bubônica, raiva, tétano, difteria e febre tifóide) são administradas à gestante apenas quando ela apresenta um risco significativo de contrair uma infecção por um desses microrganismos.

Drogas para a Tireóide

O iodo radioativo administrado a uma gestante para tratar o hipertireoidismo (hiperatividade da tireóide) pode atravessar a placenta e destruir a tireóide do feto. Além disso, ele pode causar um hipotireoidismo (hipoatividade da tireóide) grave. O propiltiouracil e o metimazol, drogas também utilizadas para tratar o hipertireoidismo, atravessam a placenta e podem causar um aumento anormal da tireóide do feto. Quando necessário, o propil-tiouracil é geralmente utilizado porque ele é melhor tolerado tanto pela mulher como pelo feto.

Hipoglicemiantes Orais

Os hipoglicemiantes orais são administrados para reduzir a concentração de açúcar (glicose) no sangue de indivíduos diabéticos. No entanto, eles freqüentemente não conseguem controlar o diabetes em mulheres grávidas e podem acarretar hipoglicemia (concentração baixa de açúcar no sangue) no recém-nascido. Por essa razão, a insulina é preferida para tratar o diabetes da mulher grávida.

Narcóticos e Antiinflamatórios Não Esteróides

Quando utilizados por gestantes, os narcóticos e os antiinflamatórios não esteróides (AINEs), como a aspirina, podem chegar ao feto em quantidades significativas. Os conceptos de mulheres com adição a narcóticos também podem tornar-se adidos antes do nascimento e podem apresentar sintomas de abstinência 6 a 8 dias após o nascimento.

O uso de doses elevadas de aspirina ou de outros AINEs durante a gravidez pode retardar o início do trabalho de parto e também pode acarretar no feto, antes do nascimento, o fechamento do canal arterial (ductus arteriosus), o conduto que conecta a aorta (a grande artéria que conduz o sangue para todo o organismo) à artéria pulmonar (a artéria que conduz o sangue para os pulmões).

Esta conexão normalmente fecha imediatamente após o nascimento. A oclusão antes do nascimento força o sangue a fluir através dos pulmões, os quais ainda não expandiram, sobrecarregando o sistema circulatório fetal. Quando utilizadas na gestação avançada, os antiinflamatórios não esteróides podem reduzir o volume de líquido amniótico (o líquido que envolve o feto em desenvolvimento, contido na bolsa amniótica), um efeito potencialmente perigoso.

O uso de doses elevadas de aspirina pode causar problemas de sangramento na mãe ou no recém-nascido. A aspirina ou outros salicilatos podem aumentar a concentração de bilirrubina no sangue do feto, causando icterícia e, ocasionalmente, lesão cerebral.

Ansiolíticos e Antidepressivos

Os ansiolíticos (medicamentos utilizados para tratar a ansiedade) podem causar defeitos congênitos quando utilizados durante os três primeiros meses de gestação, embora isto não tenha sido comprovado. O uso da maioria dos antidepressivos durante a gravidez parece ser relativamente seguro, mas o lítio pode causar defeitos congênitos, sobretudo cardíacos. Quando utilizados por uma mulher grávida, os barbitúricos (p.ex., fenobarbital) tendem a reduzir a discreta icterícia normalmente apresentada pelos recém-nascidos.

Antibióticos

Quando utilizados durante a gravidez, os antibióticos podem causar problemas. Os antibióticos do grupo das tetraciclinas atravessam a placenta e são armazenados nos ossos e nos dentes do feto, onde eles combinam-se com o cálcio. Como resultado, o crescimento ósseo pode ser lento, os dentes do concepto podem adquirir uma coloração amarela permanente e o esmalte dentário pode ser mole e anormalmente suscetível a cáries.

O risco de anomalias dentárias é maior a partir da metade até o final da gestação. Como existem vários antibióticos alternativos seguros, as tetraciclinas devem ser evitadas durante a gravidez. Antibióticos como a estreptomicina ou a kanamicina quando utilizados durante a gravidez podem causar lesão do ouvido interno do feto, podendo acarretar surdez. O cloranfenicol não prejudica o feto, mas ele pode causar uma doença grave no recém-nascido denominada síndrome cinzenta (ou do bebê cinza).

A ciprofloxacina não deve ser utilizada durante a gravidez, pois foi demonstrado que ela causa anomalias em animais. As penicilinas parecem ser seguras. Quando utilizados no final da gestação, a maioria dos antibióticos que contêm sulfonamidas pode causar icterícia no recém-nascido, a qual pode produzir lesão cerebral. No entanto, a probabilidade disto ocorrer é muito menor quando a sulfasalazina (também um antibiótico do grupo das sulfonamidas) é utilizada.

Anticoagulantes

O feto em desenvolvimento é extremamente sensível ao warfarin, uma droga anticoagulante. Até um quarto dos recém-nascidos expostos à droga durante os 3 primeiros meses de gestação apresenta defeitos congênitos importantes. Além disso, tanto a mãe como o feto podem apresentar sangramentos anormais. Quando uma mulher grávida apresenta risco de formar coágulos sangüíneos, a heparina é uma opção muito mais segura.

Contudo, o seu uso prolongado durante a gravidez pode acarretar uma contagem plaquetária baixa na mãe (as plaquetas são partículas semelhantes a células que ajudam o sangue a coagular) ou a osteoporose (rarefação óssea).

Drogas para os Distúrbios Cardíacos e Vasculares

Algumas mulheres necessitam dessas drogas durante a gestação para tratar distúrbios crônicos ou que se manifestaram durante a gravidez, como a pré-eclâmpsia (hipertensão arterial, proteinúria [presença de proteínas na urina] e edema [retenção líquida] durante a gravidez) e a eclâmpsia (crises convulsivas decorrentes da pré-eclâmpsia).

As drogas utilizadas para reduzir a pressão arterial elevada, freqüentemente prescritas para as mulheres grávidas com préeclâmpsia ou eclâmpsia, afetam a função da placenta e são administradas com muita cautela para se evitar que causem problemas ao feto. Em geral, esses problemas são decorrentes da redução muito rápida da pressão arterial da gestante, a qual reduz significativamente o fluxo sangüíneo para a placenta.

Os inibidores da enzima conversora da angiotensina e os diuréticos tiazídicos quase sempre são evitados durante a gravidez, pois eles podem causar graves problemas ao feto. A digoxina, utilizada no tratamento da insuficiência cardíaca e de algumas arritmias cardíacas (distúrbios do ritmo cardíaco), atravessa imediatamente a placenta.

No entanto, ela geralmente tem pouco efeito sobre o concepto, antes ou após o nascimento. Algumas drogas (por exemplo a nitrofurantoína, vitamina K, sulfonamidas e cloranfenicol) podem causar a ruptura dos eritrócitos nas gestantes e nos fetos que apresentam deficiênncia de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD), um distúrbio hereditário que afeta as membranas dos eritrócitos. Por essa razão, essas drogas não são prescritas para as mulheres que apresentam este distúrbio.

Drogas Utilizadas Durante o Trabalho de Parto

Os anestésicos locais, os narcóticos e outros analgésicos geralmente atravessam a placenta e podem afetar o recém-nascido (p.ex., enfraquecendo o seu impulso para respirar). Por essa razão, quando é necessária a utilização de drogas durante o trabalho de parto, elas são administradas em doses mínimas efetivas e preferivelmente o mais tarde possível, o que diminui a probabilidade delas atingirem o feto antes do nascimento.

Entrevista - A Vida está em suas mãos!

Entrevistada: Edna Santos, enfermeira chefe da maternidade do Hospital São Vicente de Paulo da cidade de Vitória da Conquista - BA.

1) No ano de 2009 entre os inúmeros bebês nascidos na maternidade houve algum caso de malformação? Caso tenha ocorrido é possível saber quantos?

Sim.Hidrocefalia;Microcefalia;Labio laporino;Hemagiona;Recém nascido com 2 cabeças em um único corpo,entre outros.

2) Dos bebês nascidos foi possível identificar qual a causa que levou a essa malformação?

Idade acima de 40 anos;Rubéola;Usuário de drogas;Parentes muito próximo (parentesco,por exemplo irmão com irmã).

3) O uso abusivo de drogas e substâncias teratogênicas X desenvolvimento embrionário.Qual a sua opinião.

É imcompatível o uso de qualquer tipo de droga durante a gravidez.

4) Qual o tempo de vida desses bebês,e se varia dependendo da malformação?

Varia dependendo da malformação.

5) Já ocorreu algum caso de malformação por conta de uma queda da gestante durante a gravidez?

É desconhecido.

6) Dentre as várias patologias causadas ao feto pelo uso de drogas teratogênicas,qual ocorre com mais frequência no hospital?

Apresenta crises convulsiformes com frequência.

7) O hospital disponibiliza um psicólogo para fazer o atendimento às mães cujo os filhos tenham nascido com malformação?

Sim,pois as mães são preparadas para receber e lidar com essa situação.

8) Algum bebê já chegou intoxicado pelo fato de ter consumido o leite materno e a mãe ser usuária de drogas?

É desconhecido.

9) Quando o hospital identifica que a mãe deu a luz a um bebê e a mesma não tem condições de criar por ser dependente química,qual a conduta utilizada?

É solicitado ao psicólogo do Conselho Tutelar e do S. Social para investigar o caso.

Drogas Sociais e Ilícitas

O tabagismo durante a gravidez pode ser prejudicial. Ao nascimento, o peso médio dos filhos de mães que fizeram uso do tabaco durante a gravidez é aproximadamente 170 gramas inferior aos filhos de mulheres não tabagistas. Os abortos espontâneos, a ocorrência de conceptos natimortos, os nascimentos prematuros e a síndrome da morte súbita do lactente são mais comuns entre os conceptos de mulheres que fazem uso do tabaco durante a gestação.

O consumo de álcool durante a gravidez pode causar defeitos congênitos. Os filhos de mulheres que consomem quantidades excessivas de álcool durante a gravidez podem apresentar a síndrome do alcoolismo fetal. Eles são pequenos, freqüentemente com microcefalia (cabeça pequena), anomalias faciais e deficiência mental limítrofe. Menos comumente, eles apresentam anomalias articulares e defeitos cardíacos.

Eles não desenvolvem normalmente e apresentam maior probabilidade de morrer logo após o nascimento. Como a quantidade de álcool necessária para causar esta síndrome é desconhecida, as mulheres grávidas são aconselhadas a se abster do consumo de álcool.

Existem controvérsias em relação à cafeína prejudicar o feto. Vários estudos sugerem que o consumo de mais de 7 ou 8 xícaras de café por dia pode aumentar o risco de ocorrência de conceptos natimorto, prematuros, com baixo peso ao nascimento ou de abortos espontâneos. No entanto, esses estudos foram comprometidos pelo fato de muitas das mulheres que consumiam café também eram tabagistas.

Um estudo subseqüente, o qual levou o tabagismo em consideração, concluiu que os problemas eram causados pelo tabaco e não pela cafeína. Não está claro se o consumo excessivo de café durante a gravidez afeta o recém-nascido. O uso do aspartame, um adoçante artificial, durante a gravidez parece seguro quando ele é consumido como adoçante dietético na quantidade recomendada.

O uso de cocaína durante a gestação aumenta o risco de aborto espontâneo; o descolamento precoce da placenta (abruptio placentae); defeitos congênitos do cérebro, dos rins e dos órgãos genitais; e os recém-nascidos podem apresentar um comportamento menos interativo. Não existem evidências conclusivas de que a marijuana (maconha) causa defeitos congênitos ou interfere no crescimento e no desenvolvimento do feto. Contudo, estudos sugerem que o consumo exagerado de marijuana durante a gestação pode acarretar um comportamento anormal nos recém-nascidos.

Curiosidade

São Paulo: Vítimas da talidomida receberão indenização de 100 vezes o valor da pensão.

SÃO PAULO - O Tribunal Regional Federal da 3ª Região decidiu que a União deverá indenizar, por danos morais, as pessoas com a Síndrome da Talidomida. De acordo com o tribunal, deverá ser pago, em parcela única, 100 vezes o valor da pensão vitalícia recebida pelas vítimas.

A União poderá recorrer da decisão, que é válida para os membros, nascidos de 1957 a 1965, da Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida, que moveu a ação. Cerca de 360 pessoas serão beneficiadas. As pessoas que já fizeram acordo com a União não terão direito.

A Talidomida é um medicamento desenvolvido na Alemanha em 1954, que pode gerar casos de focomelia - síndrome caracterizada pela aproximação ou encurtamento dos membros junto ao tronco do feto - se tomado durante a gravidez.

Em 1982, governo brasileiro, por meio da Lei 7.070, concedeu pensão alimentícia vitalícia às vítimas da síndrome. A pensão varia de meio a quatro salários mínimos, de acordo com o grau de deformação.

- Nós esperávamos uma indenização de 200 vezes o valor da pensão para que o Estado não mais cometesse o mesmo erro - disse a presidente da associação, Cláudia Marques Maximino, ao comentar a decisão judicial em São Paulo.

A entidade pediu na ação o valor de 500 vezes a pensão recebida.

Em abril passado, a 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região decidiu que a União é responsável pela fiscalização dos medicamentos comercializados no país e, por isso, deve responder pelos efeitos colaterais causados pelos produtos. Em primeira instância, a Justiça Federal havia definido a indenização por danos morais às vítimas no valor de 20 vezes a pensão.